
DOBERMANN DI AMABILE
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Cães de Trabalho
É comum ouvirmos falar de cães de trabalho e de linhas de trabalho, mas o que é que isso significa? Existirá alguma definição do que é e o que não é um cão de trabalho? Estas questões terão diferente respostas e significados para cada pessoa, daí a dificuldade em obtermos uma definição consensual. Com este artigo tentamos encontrar uma definição universal de cão de trabalho, respondendo as questões mais comuns.
1. Drives
Um cão de trabalho necessita de ter drives e instintos elevados para poder cumprir a função para a qual a sua raça foi selecionado. Os cães que utilizamos para o trabalho de defesa, proteção e guarda pertencem habitualmente ao grupo 1 (Pastores) e grupo 2 (Molossos, Pinschers, Schnauzers) que são também os mais utilizados nos esportes de IPO/RCI (Schutzhund) ou Ring (Mondio-Ring, Ring Belga, KNPV etc.).
Para não complicar em demasia, vamos debruçar sobre 3 disciplinas: IPO, Ring e utilidade pública (Policia/Militar).
"Um cão, para estar apto a desempenhar uma destas funções precisa dos seguintes aspectos, nas corretas proporções: instinto de sobrevivência, instinto de presa, confiança elevada, alguma dominância, agilidade, resistência e boa saúde." Portanto a partir do momento em que um cão é capaz de desempenhar as tarefas para as quais a sua raça foi criada, ele é um cão de trabalho.
Entendendo os drives de proteção
Por Ed Frawley
Tradução: Eri Ramos Bastos
20-Mar-2007
O trabalho de proteção (quando feito corretamente) é o mais exigente e complexo treinamento canino que existe. Muitos cães podem aprender obediência, faro ou agility, mas poucos podem lidar com proteção.
Eu muitas vezes ouço as pessoas dizerem: meu cão não foi treinado para proteção, mas tenho certeza de que se for necessário ele irá me proteger. Em 99% dos casos isso não será verdade. Na verdade, a maioria dos cães, ao ser ameaçado demonstrará o desejo de fugir, deixando seu condutor a ver navios. A razão para isso está no temperamento canino. Na sua essência o treino de mordida está diretamente baseado na habilidade do cão de lidar com stress. Um bom cão de proteção é ensinado desde filhote a agir da forma correta quando ameaçado. Ele é ensinado que evitar e correr não resolve seu problema. Para ter sucesso nesse treinamento os condutores devem ter um bom conhecimento dos drives que governam o temperamento canino no trabalho de proteção.
Estes são:
1. Drive de caça
2. Drive de defesa
3. Drive de luta
4. Drive de Fuga
Se seu objetivo é aprender como treinar um cão no trabalho de proteção, seu trabalho começa em compreender esses drives, bem como eles se relacionam um com o outro. Se um adestrador não tiver um completo entendimento sobre o desenvolvimento dos drives ele nem deve começar a trabalhar com isso, pois nunca conseguirá nenhum resultado com o trabalho de proteção.
Se você está começando agora, ouça o que eu tenho a dizer sobre drives e então assista a meu vídeo sobre esse assunto (The First Steps of Bite Work - Vídeo 101-B) ou procure um adestrador experiente e aprenda com ele.
Sempre que assistir a um trabalho de mordida você deve pensar consigo mesmo: Que drive este cão está usando e por quê? Quando observar um figurante experiente trabalhando com um cão você também deve pensar: Que drive o figurante está estimulando nesse cão? Quando ele alternar entre seus drives você deve tentar reconhecer isso e entender o porquê.
Na minha fita eu defino e demonstro os drives mostrando a vocês cães que tem um bom drive e alguns que não os tem. Eu desejo que os espectadores saibam reconhecer um cão com potencial para trabalho. E ainda mais importante desejo que eles possam identificar quando um cão não tem capacidade para o trabalho e não pode ser treinado para proteção. Logo de início todos precisam entender que os drives para o trabalho de proteção são herdados. É um fator genético e não racial ou de adestramento. Em outras palavras, se o cão não tiver uma boa genética para trabalho de proteção você não conseguirá enfiar os drives nele. Só porque um cão é um Pastor Alemão isso não significa que ele pode ser treinado no trabalho de mordida. Seria a mesma coisa que dizer que por que eu tenho um cavalo eu posso pensar em participar de um rodeio. A primeira parte do vídeo lida na definição dos drives utilizados pelo cão no trabalho de proteção. Nós então entramos no passo-a-passo para treinamento do cão, do condutor e do figurante. Para ser eficiente no trabalho de proteção o condutor e o figurante devem trabalhar como um time.
Drive de Caça:
O drive de caça é o mais simples de ver e compreender nos nossos cães. Ele pode ser reconhecido em um filhote tão jovem quanto com 6 semanas de idade. O drive de caça é o desejo de perseguir um objeto em movimento, pegá-lo e sacudi-lo uma vez abocanhado. Filhotes demonstram seu drive de caça quando perseguem uma bola ou brincam de cabo-de-guerra com as pernas de sua calça. Cães de caça que buscam e trazem um brinquedo também estão demonstrando o drive de caça. Quando você observa um cão perseguindo um coelho, um gato ou um frisbee você está tendo uma demonstração do drive de caça. No Schutzhund ou no trabalho de proteção, quando o cão agarra a manga enquanto o figurante se agita ele está usando seu drive de caça.
Enquanto o cão estiver sendo trabalhado na caça ele não se sentirá ameaçado. O trabalho na caça é muito confortável para o cão. O cão vê a caça como um grande jogo de cabo-de-guerra. Eles não se estressam em fazer isso.
Pense num labrador perseguindo uma bola, ele não se sente ameaçado em fazê-lo. Quando um cão está mordendo 100% baseado em caça ele também não se sente ameaçado. A postura corporal de um cão com o drive de caça em uso é alerta, com a cauda erguida ou abanando (esse é provavelmente o sinal mais evidente para os adestradores inexperientes), o pêlo não está eriçado nas costas no cão durante a mordida e ele não costuma rosnar ou mostrar os dentes. O latido de caça também é mais agudo e insistente, além de não soar nervoso ou estressado.
Durante o trabalho de mordida o drive de caça é usado de duas formas: Nós usamos o drive de caça para ensinar o cão o mecanismo de morder e lutar. Em outras palavras, fazemos um trabalho de caça desde cedo para ensinar o cão a identificar um pano, lingüiça de treino ou manga como um objeto-caça. O cão aprende que quando ele ver seu dono ou o figurante com um pano ou uma manga ele irá brincar de cabo-de-guerra e que aquilo é o que ele deve morder. Ensinamos o cão a latir quando for morder e ensinamos que ele deve segurar fortemente sua caça, sob pena de perdê-la. Ele também aprende que uma vez que a manga é solta pelo figurante o cão deve carregá-la e segurar como uma caça. Falamos de todas as razões sobre isso no passo-a-passo na fita.
Ainda mais importante, em cães maduros, nós usamos um nível de conforto em um cão calmo se instigamos sua caça, aliviando o stress causado por uma utilização intensiva de seu drive de defesa. Discutiremos mais tarde esse último.
No nosso treinamento utilizamos o drive de caça para criar uma zona de conforto para o cão. É uma forma de conseguir acalmar e desestressar o animal sem ter que parar o trabalho. Quando ensinamos o cão a entrar no seu drive de caça quando desejamos isso, ele aprende a relaxar após um treino estressante. Uma coisa importante a ser lembrada é que o drive de caça diminui ou se extingue uma vez que o cão se cansa. Em outras palavras, um cão cansado não tem o menor interesse por cabo-de-guerra. Isso virá à tona durante nosso treinamento. Existe uma dificuldade dos novos adestradores perceberem que à medida que um treino progride o cão ganha experiência e o trabalho em cima da caça irá mudar.
Quando uma pessoa leiga vê um cão sendo treinado na caça ele pode pensar que o cão está realmente querendo matar o figurante, quando na verdade o cão está apenas brincando de um cabo-de-guerra mais bruto.
Antes de irmos em frente, vamos olhar mais alguns estágios do drive de caça.
Cada cão que observarmos estará agindo ligeiramente diferente, mas todos na caça. Se você é novato no treino de mordida pode parecer bastante complicado, mas esperamos esclarecer a confusão no decorrer da fita.
Nos canis da polícia os figurantes fazem escapadas e os cães os perseguem, utilizando toda sua caça. O Schutzhund está atualmente tendo uma série de mudanças de regras sobre o teste de coragem mas o antigo teste de coragem começava com o figurante fugindo do cão quando o cão persegue o figurante ele está usando a caça.
Enquanto todos eles estão utilizando sua caça, o nível da mesma, sua intensidade e a forma como ela interagem com os outros drives resultam em diferentes formas.
Drive de Defesa:
Para um cão fazer trabalho policial, proteção pessoal séria ou um bom trabalho de Schutzhund, ele deve ter drive de defesa.
O drive de defesa é o que faz com que o cão proteja a si mesmo de uma potencial ameaça. Um cão jovem trabalhando no drive de defesa nunca estará numa situação confortável. Como resultado de imaginar estar sendo ameaçado ou atacado ele irá se estressar. Para nosso treino desejamos que o cão, apesar de inseguro sobre sua situação, se sinta apenas um pouco ameaçado ou agredido.
Esse desejo de defender a si mesmo também é genético e não existe forma de treinar o cão para isso, não importa o quanto você se esforce. Se ele não herdou os genes para isso de forma alguma será um cão de proteção. Alguns exemplos para isso são os labradores, goldes, huskies e outras raças assemelhadas. Esses cães simplesmente não carregam os genes para o trabalho de proteção. O melhor a se esperar deles é que latam para um estranho, dando o alarme . Mas quando ameaçados esses cães irão se esquivar e fugir. E apesar desse drive ser genético ele não irá aparecer até a puberdade do cão. Em alguns cães isso pode ser com uns anos de idade e a defesa não se desenvolve totalmente até que o cão atinja a maturidade mental e isso pode ser até depois dos três anos, dependendo da linha de sangue.
O quadro que observamos de um cão não adestrado em defesa é totalmente diferente do que está em caça.
Inicialmente ela demonstra insegurança. Os latidos são mais profundos e sérios. Os pêlos estão eriçados nas costas e ele estará mostrando todos os seus dentes e rosnando.
O eriçamento dos pêlos é uma reação natural que faz o animal parecer maior e mais ameaçador. É uma reação comum no mundo animal, como em porcos-espinhos e alguns lagartos. A intenção é assustar a ameaça. O latido de defesa é grutal e profundo. Uma vez que você o percebe é possível definir a diferença entre ele e o de caça. Em defesa a cauda também estará diferente, não balançando tanto e em uma posição muito mais abaixo. Da mesma forma, a mordida de defesa não é a mesma da caça. Ela é feita com a parte da frente da boca. Os cães dão uma mordida cheia quando na caça, mas apenas com a frente da boca na defesa. Quando ouvir um adestrador dizer que a mordida na defesa enfraquece, entenda que ele quis dizer que ela está sendo feita apenas com os caninos e por vezes mastigando a manga.
Adestradores novatos devem pensar na cauda e na mordida como um termômetro do temperamento. Quando o cão está numa situação confortável a cauda balança mais e fica mais erguida. À medida que a pressão aumenta ela começará a se agitar menos e ficar mais baixa, assim como a mordida ficará mais fraca. Se a pressão continuar a aumentar o cão se aproximará do desejo de fuga e seu rabo estará entre as patas.
A melhor hora para começar a fazer o trabalho de proteção é depois que o cão tiver atingido sua maturidade mental e após um treino básico em cima de seu drive de caça. O drive de defesa começa a se mostrar aos 4 ou 5 meses de idade na forma de latidos frente a novas situações. Ele não estará completamente desenvolvido até os 18 a 24 meses, podendo levar até 3 anos em alguns cães.
Um figurante muito experiente pode começar a introduzir a defesa no cão quando ele atingir a puberdade. Isso costuma acontecer entre 11 e 14 meses. Figurantes novatos que tentam essa introdução antes da maturidade mental do cão estão fazendo a pior besteira de sua carreira. Obrigar o cão a trabalhar a defesa antes de estar completamente maduro é a forma mais fácil de arruinar seu futuro em proteção.Se você tem que levar alguma lição do vídeo, tenha certeza de que será: SEJA MUITO, MUITO, CUIDADOSO AO TRABALHAR A DEFESA DE CÃES JOVENS.
Alguns cães têm ótimos drives de caça, mas lhes falta defesa. Um ótimo exemplo é o labrador, que ama perseguir bolinhas, mas nunca poderia ser treinado para proteção, por falta de defesa.
Ao contrário do drive de caça, o de defesa não diminui ao passo que o cão se cansa. Outra forma de encarar isso é que não importa o quanto ele se sinta cansado, ainda assim irá reagir a uma potencial ameaça.
Trabalhar no drive de defesa requer um figurante muito capaz e apto a ler e entender o temperamento de forma, a saber, exatamente o quanto mais de pressão pode ser colocado sobre o cão antes do mesmo de passar à fuga.
Drive de Luta:
Na medida em que o treinamento vai avançando, a perspectiva do cão sobre o figurante irá mudar. No começo do treino o figurante é um amigo que quer brincar de cabo-de-guerra ou uma pessoa que sempre quer roubar a caça. Mas quando entra o estágio da defesa o cão começa a ver o sujeito como alguém que sempre quer atormentar sua vida. O figurante passa a ser visto como uma ameaça da qual ele irá sempre desconfiar. Mas conforme o trabalho de defesa avança a confiança do cão também cresce (se ele for geneticamente capaz disso). Ele é ensinado como vencer o figurante em todas as circunstâncias. Isso irá lentamente mudar a visão do cão sobre o figurante. Ele começa a ver o figurante como um parceiro de lutas. Alguém com quem deve ficar bravo e não nervoso. Quando essa fase começa, dizemos que o cão está desenvolvendo seu drive de luta.
Definimos o drive de luta como uma interação dos drives de caça e defesa, onde o cão luta com a vontade da caça e com a intensidade da defesa. A imagem de um cão com uma boa luta é um cão com uma grande autoconfiança em qualquer ambiente e em qualquer circunstância. É um cão que não age ou aparenta insegurança durante o trabalho de proteção. O nível e intensidade do seu trabalho de mordida é muito alto, o cão mostrará uma tenacidade na luta não vista em cães jovens e imaturos.
A única forma de um cão desenvolver sua luta é com experiência e treinamento. Eles não vão simplesmente acordar na manhã de seu aniversário de 3 anos e possuir o drive de luta. O cão precisa passar por uma ótima base em treino de caça e, no momento correto, ser introduzido no treino de defesa. É importante ressaltar que somente cães com boa genética e o treinamento correto irão desenvolver o drive de luta. É interessante o fato de que cães com um forte drive de caça desenvolvem o melhor drive de luta. Cães dominantes também tendem a desenvolver bem a luta.
Se você já ouviu alguém dizer que o drive de luta era defesa, isso não está exatamente correto. A diferença entre esses dois drives é a maneira como o cão vê o figurante e o nível de conforto que ele está durante o trabalho.
Lembre-se dessa comparação: O cão com luta vê o figurante como um colega de luta. Quando ele vê o figurante ele fica bravo, quer partir para a luta com ele. Adestradores pouco experientes podem ter dificuldades para distinguir o latido de defesa com o de luta. Não se preocupe, pois isso é normal. Todos os novatos passam por isso. Eu mesmo levei um bom tempo para entender. Conforme for ganhando mais experiência, mais suas habilidades para reconhecer esses drives aumentarão.
Drive de fuga:
Fuga é mais comumente usado no treino de obediência. É um drive que não desejamos que apareça num treino de proteção.
Quando o nível de stress fica muito alto para os nervos daquele cão em particular ele irá fugir. Algumas pessoas chamam fuga de drive, mas eu prefiro ver a fuga como uma forma de defesa. O extremo da defesa. Afinal, existe alguma defesa melhor do que uma retirada estratégica? Uma vez que o cão foge, ele aprende instantaneamente que essa é uma forma fácil de lidar com a pressão. Podemos levar meses para trazer um cão de volta ao estágio onde estava antes de ser quebrado e fugir.
Quando falamos de fuga também estamos falando em ser hesitante. Existe uma diferença. Ser hesitante é quando o cão dá um passo atrás para avaliar o que está acontecendo quando ele está estressado. Isso normalmente acontece com cães jovens que foram expostos a um nível um pouco maior de stress. Ser hesitante não é ruim, na verdade é até bom. Quando um cão aprende a lidar com a hesitação e a lidar com novas situações ele ficará mais forte e confiante.
Um cão em fuga irá enfiar o rabo no meio das pernas, jogar as orelhas para trás, eriçar os pêlos e fugir. Um cão em dúvida não irá enfiar o rabo entre as pernas. Ele pode abaixar um pouco, mas só. Ele pode também parecer confuso, mas não amedrontado. Existe uma diferença aqui.
Os adestradores devem desenvolver a percepção quando o cão está querendo fugir ou apenas em hesitante. Em estágios avançados de treinamento iremos intencionalmente colocar o cão numa situação de dúvida de forma a ensiná-lo a enfrentá-la e aprender a lutar com isso.
Posso treinar meu próprio cão no trabalho de mordida?
Sou freqüentemente indagado por novos adestradores se eles podem fazer treino de proteção com seus cães. E eu tenho uma pequena história para responder a essa pergunta. Se você tem um filho e deseja que ele aprenda a lutar, você o coloca em aulas de karatê. Essas aulas são todas baseadas em drive de caça onde a criança aprende as técnicas de luta. Ele pode participar de um campeonato de karatê e dar uma surra no seu adversário ficando ainda no drive de caça é apenas um jogo.
Você pode ajudar seu filho sendo seu treinador e orientador na luta. O mesmo vale para o seu cão você pode ajudá-lo com o treinamento básico de caça.
Se seu filho algum dia se envolver em uma briga onde precise lutar por sua vida, ele estará trabalhando no drive de defesa. Ao passo que o condutor ou proprietário pode treinar a caça com seu cão, ele nunca poderá treinar a defesa, por isso faria com que seu cão passasse a duvidar dele e pensar que ele deseja matá-lo. Assim como você nunca colocaria seu filho em uma posição que ele pense que você o deseja mal, assim deve ser com seu cão. O condutor pode treinar seu cão enquanto estiverem trabalhando na caça para que ele possa aprender todas as habilidades necessárias para passar para o próximo estágio. Na verdade se um vizinho algum dia ver um cão mordendo a manga no seu próprio dono, apesar de estar na caça, ele pode achar que seu cão ataca até o próprio dono, enquanto ele está apenas brincando de uma nova versão de cabo-de-guerra. Quando quiser começar a trabalhar a defesa, ele deverá procurar algum figurante experiente para ajudá-lo nisso. Não existe outra forma de fazê-lo. Iremos ao nosso vídeo mostrar como treinar uma defesa bem limitada sem a presença de um figurante experiente, mas a verdade é que não se pode fazer muito sem ajuda de alguém experiente. O que eu posso dizer é: para trabalho de proteção pessoal, se todo o trabalho de embasamento for feito corretamente, a ajuda adicional necessária será bem menor.
fonte: www.apro.gov.br
Revisão: Melissa Salles
2. Títulos
veja mais em : Siglas e abreviações dos títulos de Trabalho
Um cão que está a treinar para obter o seu primeiro titulo já é um cão de trabalho pois já está inserido num programa de treino muito especifico e com objetivos claros. A rotina normal do treino para IPO/RCI e de Ring engloba uma série de exercícios de pistagem/obediência/defesa com graus de dificuldade crescentes, de um dia a dia com regrado, de toda uma preparação física quer ao nível da agilidade como do endurance, do constante fortalecimento do elo cão/condutor - pensemos num atleta que se prepara para as suas provas desportivas! Um cão que se mostra capaz e alegre durante este tipo de treino será já um cão de trabalho em potencial e oficialmente um cão de trabalho ao atingir o seu titulo.
Oficialmente um cão de trabalho tem obrigatoriamente de ter um titulo de trabalho. Contudo, por vezes o fato de o cão não ter um titulo de trabalho é única e exclusivamente culpa do dono/treinador. Todos conhecemos excelentes cães, com drives fantásticos, em mãos de pessoas que simplesmente não os sabem treinar ou que estão interessados nisso Por outro lado há cães de trabalho que são cães de capacidades médias nas mãos de treinadores experientes - é o que se chama de cães feitos. Um mau treinador nunca consegue melhorar o cão, apenas conseguirá disfarçar algumas lacunas, mas pouco mais; e por vezes até arruína um bom cão; enquanto que um bom treinador saberá avaliar o cão, e descobrir a forma de treino mais adequado para o levar a melhorar - quando ouvir um treinador dizer que está a "subir" um cão, trata-se exatamente disso. Há cães adultos (com 2 anos e mais), que nunca tiveram qualquer tipo de treino, e que em uma ou duas sessões de treino mordem a manga com uma mordida cheia e forte, sem lutarem agressivamente com o figurante, e que agüentam até a pressão do bastão e o som do chicote - estes são cães com drives elevados e corretos, o instinto já nasceu com eles e apenas precisa de ser despertado e direcionado.
Concluindo, para ter os drives corretos para trabalho não é necessário grande treino (esse é para os "limar" e direcionar a um trabalho especifico) e nem todos os cães com titulo de trabalho são verdadeiros cães de trabalho na sua essência. Mas oficialmente apenas estes últimos são reconhecidos. Daí a importância de sensibilizar os donos de Dobermann para os desportos que podem e devem praticar com os seus cães - nomeadamente o IPO/RCI - contribuindo assim para um aumento do numero de Dobermanns com provas dadas, mais equilibrados, treinados, e com um forte elo de ligação com o seu dono.
O titulo mais comum nesta raça e o mais respeitado é o de IPO/RCI. Esta é também a prova de seleção da raça por excelência. Na Alemanha (país de origem não só do Dobermann, como de outras nobres raças de trabalho como o Pastor Alemão e o Rottweiler) o IPO/RCI (Schutzhund) é muito popular. Foi criado pelo German GSD Club (Clube do Pastor Alemão) para testar e manter a funcionalidade e o caráter correto para trabalho do Pastor Alemão.
Entretanto, na Bélgica, os proprietários e criadores da raça Pastor Belga criaram o "Ringsport" (desporto de Ring) para testar e manter a funcionalidade e caráter do Pastor Belga Malinois, sendo seguidos pela França e Holanda. Temos também os cães de utilidade pública ao serviço da Polícia/Forças Armadas, que têm um treino semelhante ao RCI e ao Mondio-Ring, mas sempre simulando situações reais do dia a dia e que têm títulos como: POL.DH., MIL.DH Resumindo, todos os títulos que permitam a uma raça entrar nas classes de trabalho são válidos: IPO/RCI/Schutzhund, Ringsport, POL.DH., Mil.DH, CQN. A opinião geral sobre um Dobermann que está a trabalhar em programas de obediência, pastoreio ou agility, é que este não pode ser considerado um cão de trabalho...uma opinião algo discutível, mas geralmente aceito.
3. Pontuação
Um cão de IPO/RCI tem que ter os mínimos de 70-70-80 (220/300) para passar a prova. Os drives de trabalho são mostrados e testados em todas as fases da prova e um verdadeiro admirador de cães de trabalho respeitará as 3 fases de igual forma: Pistagem, Obediência e Defesa. Teoricamente o cão que passa com os mínimos de 70-70-80 é um cão de trabalho. Será preciso observar se o cão teve essa pontuação porque foi mal conduzido, ou mal treinado, mas demonstrando ao longo das três disciplinas o caráter e drives corretos; ou se simplesmente é um cão mediano.
Na nossa opinião, as três fases do IPO/RCI revestem-se de igual importância:
1)Pistagem: prova a capacidade de olfato e de seguir um rasto especifico (instinto de sobrevivência), e é também um exercício de obediência (controlo e marcação de objetos).
2)Obediência: prova a capacidade de cooperar com o condutor (velocidade de execução e alegria) e o controlo.
3)Defesa: testa o instinto de presa, a mordida, a capacidade de se acalmar, a velocidade de reação e a obediência (controle) A fase da Defesa pode ser avaliada pelo juiz como "A" (coragem pronunciada) seja qual for a pontuação. Assim, um cão pode obter a pontuação de 72A o que significa que perdeu pontos pela falta de obediência (controle) mas não por não demonstrar os corretos drives face ao figurante.
Um cão demasiado dominante e com drives demasiado elevadas e não controladas pode falhar na prova pelas razões óbvias. Um cão excessivamente dominante nem sempre obedece ao condutor, principalmente se não tiver tido um treino adequado á sua "dureza"; um exemplo perfeito é o cão que não larga a manga quando é dado o comando. Ele perderá pontos preciosos devido á sua falta de obediência. Outro exemplo comum é o do cão que tem drives extremas para trabalho, mas que não foi socializado corretamente, mostrando agressividade gratuita em relação a estranhos e outros cães, estes cães, que poderiam ser excelentes cães de trabalho, nunca passarão um teste de caráter, um teste de sociabilidade, ou um BH - provas obrigatórias para os cães poderem ser inscritos em provas de trabalho de IPO/RCI ou de Ring.
Na nossa opinião, um cão de trabalho só é completo se tiver suficiente instinto de defesa e de proteção. Um cão que obtenha pontuações excelentes em provas desportivas, mas que depois deixe qualquer estranho entrar na casa do dono, no carro, ou que não mostre atitude caso o dono seja atacado, não é um cão de trabalho completo, pois não mostra ter os instintos corretos. O cão com drives corretos avisará o dono ausente latindo, e barrará a entrada ao estranho, mostrando agressividade defensiva caso seja provocado, mas mantendo-se firme caso o estranho se imobilize, aguardando a chegada do dono. Há alguns casos de cães que deixam o estranho entrar mas não o deixam sair, esta atitude também está correta, pois mostra que o cão tem drives mas também tem equilíbrio, só reagindo agressivamente a uma agressão. Cão que não tenham a dureza suficiente também terão problemas face a situações inesperadas, como o ser pisado acidentalmente pelo figurante enquanto está a ser carregado na manga; ou face a um figurante canhoto que leva a manga e o bastão nas posições inversas ao normal,etc. Quando uma destas situações acontece inesperadamente a um cão que tem o nível ideal de agressividade-dureza, o cão passará do drive de defesa para o drive de luta, firmando a sua posição com maior força e confiança. O cão "feito" e aquele que não teve a rotina de treino correta hesitará por instantes podendo perder pontos) ou fugirá.
4. Linhagem de Trabalho
Existem dois tipos de cães de trabalho de topo: o cão criado por coincidência e o cão que vem de linhas de trabalho com provas dadas. Ambos serão cães de topo, mas nós preferimos os últimos. Os bom cães feitos, ou fruto de coincidência, não reproduzirão as suas qualidades (pois não são genéticas mas sim adquiridas) á sua descendência.
Os irmãos de ninhada carregam a mesma conformação genética, contudo podem e existem habitualmente diferenças de caráter entre os cães de uma mesma ninhada (cada um é um individuo único). Logo, por ser irmão de ninhada de um CH de trabalho, não significa que esse cão terá as mesmas aptidões. Está mais habilitado a tê-las, mas não é seguro que as terá efetivamente.
Se os Criadores forem os primeiros a testar os seus cães não só morfologicamente, mas também em provas de trabalho; e se forem capazes de ver a diferença entre um talento natural e um cão feito; teremos excelentes cães, cães morfologicamente corretos e funcionais: cães completos!
Habitualmente pensa-se em machos quando se fala em reprodutores e trabalho. Neste texto a palavra CÃO abrange machos e fêmeas. Na verdade, a fêmea é tão ou ainda mais importante que o macho, pois esta tem obrigatoriamente de ser sempre de topo já que é a responsável por 70-80% do caráter e drives dos cachorros. Todos os cães reprodutores deveriam ser selecionados através de testes de caráter, e do ZTP da raça (Teste de Aptidão para Criação), já para não falar de provas de IPO/RCI; e não apenas pelas provas de beleza. Um cão completo tem a melhor morfologia para a mais elevada funcionalidade. Uma sem a outra resultam em cães incompletos que em nada beneficiam a raça.
Enquanto os criadores não optarem pelo equilíbrio da raça, continuaremos a ver Dobermanns que apenas têm o aspecto de um, mas nenhum caráter e Dobermanns com caráter mas extremamente incorretos perante o estalão morfológico da raça.
Texto escrito por Melissa Salles
adaptado de What is a real Working-Dog de Guy Verschatse